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Thammy Miranda sempre sofreu lesbofobia e o porquê isso não deveria ser apagado

Thammy desde novinha foi uma vítima da sociedade misógina: hiperssexualizada, exposta ao fetiche masculino e cercada por uma mídia que objetifica mulheres. Mais tarde, quando assumiu sua lesbianidade, sofreu o duplo massacre: primeiramente por gostar de outras mulheres, consequentemente, não estando disponível para os homens para qual sua imagem foi construída, e também por subverter todos os padrões do ”tornar-se mulher”: através da estética ela disse um NÃO ao padrão social imposto a todas as mulheres. No entanto, uma mulher que se nega a se portar como o patriarcado espera não se torna um homem, porque o gênero feminino não está em oposição ao masculino. Ter cabelos curtos e não usar vestidos não impediu que Thammy continuasse sofrendo misoginia, porque a sociedade ainda assim a via como uma “mulher pervertida”, ”mulher sem vergonha”, ”sapatona”, ”mulher suja”, “maria macho”. Sendo que ela apenas se negou a reproduzir esteticamente os padrões do gênero que lhe foi imposto. Imagina o tanto de misoginia e lesbofobia que essa menina ouviu e internalizou. Até chegar no ponto que pensou: ”nossa, realmente, deve ter algo de errado comigo”. No entanto, errada está essa sociedade heteronormativa que faz com que até homossexuais entrem nessa lógica do macho/fêmea ou /passivo/ativo da relação. Como se os seres humanos fossem polaridades. Tudo bem, vivemos no santuário neoliberal onde o pessoal deixou de ser político e a individualidade é sagrada, e realmente eu não tenho nada a ver com a vida da Thammy e que o que importa é ela estar feliz (feminismo deboísta, não?), mas não problematizar isso é um erro tão grande, porque não questiona o status quo da nossa sociedade que mobiliza uma pessoa a acreditar que ”nasceu em corpo errado”, quando na verdade não existe corpo certo e errado, mas sim um discurso social opressor.

por Débora Ramos

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eu não sou bonita

não se encaixar nos padrões do que é encarado como beleza pela sociedade é um fardo que muitas mulheres carregam – a maioria delas. o padrão é exceção. é minoria. é violência. a intensidade da cobrança sobre a cabeça de meninas – sim, meninas, desde crianças, desde o nascimento e o absurdo que é furar a orelha de uma criança de alguns dias de vida – pra que se encaixem no padrão é força motora de muitas doenças. essas doenças são motivo de muitas tragédias.
essas meninas não são bonitas. elas não se amam. elas não tem amor-próprio. a elas é dito, então, que aprendam a se amar independente de padrões. que elas podem ser bonitas mesmo sendo gordas, sem maquiagem, de cabelo amassado e espinha na cara. que na aceitação do corpo como é está a chave pra começar a se sentir bonita.
a questão é: o que é se amar?
o que é construir um amor-próprio baseado nos ideais de amor e beleza distorcidos que a sociedade nos impõe? o que é amor nesse sistema patriarcal capitalista doente? de que ele nos vale? ao nos esforçarmos em tamanha medida pra enxergarmos beleza em nós, não estamos nos submetendo à imposição da beleza? eu me considerar bonita independente de ser gorda ou magra muda o fato de que eu estou cedendo a pressão de ter que ser bonita pra ter algum valor?
eu não preciso ser bonita. e quando digo isso não é de um jeito suave, não estou falando de subjetividade. estou dizendo que não se esforçar pra atingir o padrão e não me utilizar de floreios pra fingir que estou nele é um ato político. eu reivindico minha feiúra. ela é vestígio da violência que me é imposta e é evidência do meu ódio. esse ódio não será silenciado.

(não estou de jeito nenhum julgando mulheres que se esforçam pra se encaixar no padrão. não vou culpabilizar quem não encarar as coisas da mesma forma que eu. essa é só a minha leitura.)

por Taís Lago

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