eu não sou bonita

não se encaixar nos padrões do que é encarado como beleza pela sociedade é um fardo que muitas mulheres carregam – a maioria delas. o padrão é exceção. é minoria. é violência. a intensidade da cobrança sobre a cabeça de meninas – sim, meninas, desde crianças, desde o nascimento e o absurdo que é furar a orelha de uma criança de alguns dias de vida – pra que se encaixem no padrão é força motora de muitas doenças. essas doenças são motivo de muitas tragédias.
essas meninas não são bonitas. elas não se amam. elas não tem amor-próprio. a elas é dito, então, que aprendam a se amar independente de padrões. que elas podem ser bonitas mesmo sendo gordas, sem maquiagem, de cabelo amassado e espinha na cara. que na aceitação do corpo como é está a chave pra começar a se sentir bonita.
a questão é: o que é se amar?
o que é construir um amor-próprio baseado nos ideais de amor e beleza distorcidos que a sociedade nos impõe? o que é amor nesse sistema patriarcal capitalista doente? de que ele nos vale? ao nos esforçarmos em tamanha medida pra enxergarmos beleza em nós, não estamos nos submetendo à imposição da beleza? eu me considerar bonita independente de ser gorda ou magra muda o fato de que eu estou cedendo a pressão de ter que ser bonita pra ter algum valor?
eu não preciso ser bonita. e quando digo isso não é de um jeito suave, não estou falando de subjetividade. estou dizendo que não se esforçar pra atingir o padrão e não me utilizar de floreios pra fingir que estou nele é um ato político. eu reivindico minha feiúra. ela é vestígio da violência que me é imposta e é evidência do meu ódio. esse ódio não será silenciado.

(não estou de jeito nenhum julgando mulheres que se esforçam pra se encaixar no padrão. não vou culpabilizar quem não encarar as coisas da mesma forma que eu. essa é só a minha leitura.)

por Taís Lago

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